O espetáculo da movelaria

foto: Edemir Rodrigues

Sim, eu vi o show da banda que, na minha opinião, faz a melhor apresentação em um palco (e também no chão) entre os artistas do cenário musical brasileiro. O show aconteceu durante a programação do 7º Festival América do Sul, em Corumbá (MS). Quem esteve na Capital do Pantanal viu o carnaval nas ruas da cidade, sem o samba tradicional, mas ao som da feijoada búlgara produzida pelos Móveis Coloniais de Acaju.

Os brazilienses subiram no Palco Brasil para mostrar que um show animado não se faz apenas com canções de letras conhecidas do grande público e que a distância que um palco coloca entre artista e plateia pode ser reduzida a uma grande roda de interação musical. Como o festival tem uma programação totalmente gratuita e aberta ao público, os móveis tiveram uma platéia heterogênea, entre fãs e curiosos que queriam saber quem eram os caras.

O show começa com um convite do vocalista André Gonzales, num simples gesto ele chama a plateia a se colocar mais perto do palco. Já nos primeiros acordes da mistura de ritmos que a banda apresenta, o público que ainda não conhecia o trabalho do grupo percebe que os Móveis Coloniais de Acaju não são nada estáticos.

“Somos carentes de público”, brinca André, falando da necessidade que banda tem da interação, colocando todos para cantar junto, dançar e nunca parar de pular. Por vezes, a carência é tanta que os metais da banda descem do palco, formam uma roda em meio ao público e deixam a empolgação tomar conta do show.

“É chegando perto da plateia, sentindo o calor do público que se pode observar como eles estão recebendo o nosso trabalho e podemos trocar ideia", diz Beto Mejia, flautista dos Móveis. “Nosso trabalho chega para o público assim, com a empolgação, com esta tática de guerrilha, fazendo a aproximação”, completa.

A tática dá certo e o bis parece inevitável ao fim da apresentação. A banda então volta para continuar na empolgação dos fãs que já conheciam o trabalho do grupo e dos novos seguidores conquistados no show marcado pela mistura de povos.

A apresentação da banda trouxe músicas dos dois CDs gravados pelos Móveis – Idem e C_MPL_TE (Complete). “Complete reflete a ideia do conjunto, o público faz parte dessa interação”, afirma o saxofonista Esdras Nogueira, referindo-se ao mais recente disco dos Móveis.

Sobre a mistura de ritmos que o grupo promove, formando o que eles denominam de “feijoada búlgara”, Mejia diz que é esta característica que dá identidade ao trabalho dos Móveis Coloniais de Acaju. “Quando se mistura é que se tem identidade”, observa o músico.

A identidade já rendeu mais de 500 mil downloads do disco C_MPL_TE disponível no site da banda através do projeto Álbum Virtual, da gravadora Trama. “É um projeto onde nós colocamos o disco disponível para baixar e quem paga é o patrocinador”, esclarece Esdras Nogueira.

“Eu não acho que a internet atrapalhe as vendas, ao contrário, ela oportuniza a popularidade da banda, tem efeito multiplicador e nos mantém próximos dos fãs. Por isso a gente procura usar bem a rede”, completa Esdras.






Roberta Sá e sua festa do Brasil universal

foto:Edemir Rodrigues

Com seu longo vestido vermelho, Roberta Sá fez a plateia sambar e cantar as músicas de seu trabalho Pra se Ter Alegria. Com a beleza de sua voz e a leveza e sutileza características, a cantora mostrou a pluralidade da música brasileira. “O que eu busco com a apresentação é a proximidade com tudo que é popular brasileiro”, diz Roberta Sá.

Pude assistir o show da cantora no Festival América do Sul, em Corumbá (MS). Com muito prazer, também foi possível conversar com a artista antes e depois da apresentação. “Tem maracatu, maculelê, macuquegê. Tem capoeira de roda, também tem cateretê”, e teve muito mais no Palco das Américas. “Eu quero mostrar a festa do Brasil universal”, afirmou Roberta, após a passagem de som que antecedeu a sua apresentação.

“Estou emocionada em tocar aqui, neste palco que tem o Rio Paraguai logo à frente. Este lugar tem uma energia especial”, disse a cantora. “É um show feito para transmitir minha alegria a todos”.

E transmitiu. Mesmo aqueles que não conheciam o brilhante trabalho de Roberta Sá puderam se deleitar com a beleza musical que a cantora levou para o palco. “O show foi maravilhoso, quem ainda não conhecia o meu trabalho teve a oportunidade de conhecer e quem já conhecia pôde se divertir bastante”, avalia. “Foi delicioso me apresentar para este público maravilhoso e com a energia desta água toda do Rio Paraguai ao fundo”, observa.

Sobre o Festival América do Sul, a artista considera como “uma iniciativa sensacional. Tem que ter mais, isso só enriquece a cultura dos países. A cidade também é muito gostosa, dá vontade de vir e ficar uns três dias só para conhecer o lugar”, diz.

“É super importante participar deste festival porque a gente que mora no Rio de Janeiro ainda tem pouco contato com a cultura, com a música latina, e esta proximidade é maior nesta parte do País. Podemos conhecer mais da cultura de outros países que têm muito a ver com o nosso”, conclui.

Para os que ainda não puderam ter o prazer de ouvir o cantar e ver a bela performance de Roberta Sá, segue abaixo um trecho do DVD Pra se Ter Alegria, com a música Pelas Tabelas, composta por Chico Buarque.




Por alguém que sabe nada de Samba, mas sempre ouviu tocar um bamba


Africano de origem, mas brasileiro nato. Gingado baiano com malandragem carioca. Uma alma negra, negra mulata, dessas que dançam com um largo sorriso no rosto e encantam pela alegria, isso é samba. O samba brasileiro famoso no mundo inteiro.

O samba nasceu semba, assim mesmo, com “E” ao invés de “A” – um ritmo religioso, significa “umbigada”, pela forma como se dança. Cruzou o oceano junto com os escravos que vieram labutar em terras tupiniquins. Aportou na Bahia, nas plantações de cana-de-açúcar. Perdeu um pouco de sua natureza ritualista, e junto com o suor do negro escravo, caiu no solo e aqui ficou.

Das plantações de cana baiana veio ao campo de café no Rio de Janeiro, no carnaval apresentou seu ritmo e ganhou identidade própria, tornou-se um gênero musical. Na então capital, tinha uma morada, as casas das tias baianas da Praça Onze, no centro do Rio, um local que era conhecido como “A pequena África”.

Humildade é a cara do samba, vindo de escravos se tornou popular nos morros do Rio de Janeiro. Fez surgir as escolas de samba, a primeira foi “Deixa falar”, e o samba falou, tocou, dançou, apareceu. Curioso, mas foi uma portuguesa quem conseguiu difundir o ritmo pelo mundo, colocou algumas frutas na cabeça e chamou a atenção para cá. Como alguém que diz “ei ! Olhem pra mim”, Carmem Miranda mostrou para todos o que é que a baiana tem.

Em 1917 o samba moderno, como gênero musical, deu as caras pela primeira vez, o primeiro registro oficial dele foi numa música chamada “Pelo Telefone”. Na década de 1930 o presidente Getúlio Vargas deu ao samba o status de “música oficial do Brasil”. De lá pra cá o samba foi dando origem a vários sub-gêneros, entre estes está a Bossa Nova.

Em uma conversa de samba é fácil dizer que ele “tem cadência, tem poesia, tem suave melodia, só o samba faz vibrar”. Ele é africano, carioca, do terreiro, da colina e da avenida, do salão e do carnaval, o samba é brasileiro e o Brasil não tem fronteira: é feliz e samba como ninguém.